Trump afirma que fará tarifa de 100% para filmes feitos fora dos EUA
Tarifa afetaria a quantidade de filmes produzidos por Hollywood
No último domingo, a indústria cinematográfica estadunidense ficou abalada após Donald Trump usar as redes sociais para afirmar que instruiu o Departamento de Comércio e o Representante Comercial dos Estados Unidos a aplicar uma “tarifa de 100%” sobre qualquer filme que entre nos EUA e que não tenha sido produzido no país.
Na postagem, ele afirma que a “indústria cinematográfica americana está morrendo muito rápido”, porque outros países oferecem incentivos para cineasta e estúdios trabalharem longe dos EUA. Na mensagem, Trump ainda enfatiza que filmar em outros países representa uma ameça à Segurança Nacional, por ser “mensagem e propaganda”. No dia seguinte, a Casa Branca emitiu um comunicado esclarecendo que “nenhuma decisão foi tomada” sobre tais tarifas.
Durante anos, as produções de Hollywood migraram para lugares como Reino Unido, Austrália, Canadá, Irlanda e Espanha em busca de incentivos fiscais. Ainda existe uma indústria de baixo orçamento focada em vídeo sob demanda (VOD) filmados em países do Leste Europeu, como Romênia e Bulgária. Os baixos custos de mão de obra e os incentivos fiscais locais tornam essas localidades atraentes para produção.
Também há uma série de filmes de grande sucesso que serão lançados nos próximos meses e filmados fora dos EUA. Não está claro se existira um período de carência ou se essas produções seriam alvo de uma tarifa. Missão: Impossível - O Acerto Final, por exemplo, foi filmado em várias localidades pelo mundo. Estreando nos cinemas em 22 de maio, a produção buscou lugares ditos como “exóticos” e não estava necessariamente interessada em créditos fiscais.
Estreando no início de junho, Ballerina, spin-off de John Wick, foi filmado na Tchéquia, enquanto Avatar: Fire and Ash (19 de dezembro) foi produzido na Nova Zelândia, que se tornou um centro de produção importante nos últimos 20 anos. Outras divisões da Disney também poderiam ser profundamente afetadas, como a Marvel Studios e a Lucasfilm. Ambas as divisões geralmente produzem suas produções no Reino Unido.
Há inúmeras outras questão sem resposta sobre como seria impor tarifas a um serviço feito por uma empresa sediada nos EUA — especialmente na era digital, já que a maioria dos filmes agora é transferida digitalmente, em vez de rolos físicos. Com os filmes estadunidenses dominando bilheterias de muitos mercados estrangeiros — um superávit comercial de mais de US$ 15 bilhões em 2023 —, a diminuição de produções afetaria profundamente a economia, a indústria e as empresas.
Enquanto isso…
Segundo o THR, os principais executivos dos estúdios de Hollywood devem se reunir com o presidente e CEO da Motion Pictures Association, Charles Rivkin, para discutir a proposta de impor tarifas sobre os filmes. Até o momento, a MPA — principal organização comercial que representa os estúdios de cinema e suas empresas controladoras — ainda não respondeu oficialmente aos comentários de Trump sobre as tarifas.
Os participantes da teleconferência com Rivkin incluem o copresidente da Disney Entertainment, Alan Bergman; o chefe da Amazon MGM Studios, Mike Hopkins; a presidente da Universal Pictures e chefe da NBCUniversal Entertainment & Studios, Donna Langley, o co-CEO da Paramount Global, Brian Robbins, o presidente do Sony Pictures Motion Picture Group, Tom Rothman, o co-CEO da Netflix, Ted Sarandos, e o CEO da Warner Bros. Discovery, David Zaslav.
O THR afirma que inúmeros fontes dizem que tais tarifas, dependendo de como forem calculadas, podem devastar a indústria cinematográfica, assim como a televisão, considerando a quantidade de séries e filmes filmados no exterior devido à isenções fiscais e incentivos à produção mais brandos. Os orçamentos de produção podem estar sujeitos a um aumento paralisante de 25% ou mais em um momento em que a indústria ainda não se recuperou completamente da pandemia e das greves trabalhistas. Isso poderia resultar em menos filmes, o que, por sua vez, poderia gerar uma pressão econômica ainda maior para as redes de cinema nos EUA e o redor do mundo.
Rivkin tem sido um defensor firme do aumento de incentivos à produção nos EUA em nome dos estúdios, assim como dos líderes sindicais. A MPA também monitora quantos empregos na área de produção a indústria cria ao redor do mundo.
“Tarifas? Que tarifas?”
Bob Iger, CEO da Disney, sinalizou que o estúdio produzirá ainda mais conteúdo local e regional original no exterior para expandir seus negócios de streaming em todo o mundo. Em teleconferência matinal com analistas após a divulgação dos números financeiros do segundo trimestre da empresa, Iger afirmou que o “terceiro pilar do crescimento é o investimento em conteúdo, especialmente fora dos EUA”.
Desde o lançamento do Disney+ em 2019, a Walt Disney expandiu seus negócios de streaming fora dos EUA e, como parte da estratégia do estúdio, a empresa já está começando a desenvolver “agressivamente em mercados muito específicos”. Em um documento divulgado em fevereiro, a empresa afirmou que espera gastar US$ 23 bilhões em conteúdo produzido e licenciado, incluindo direitos esportivos, em seu ano fiscal.
O negócio de streaming da Disney voltou a crescer em número de assinantes durante o segundo trimestre. Após perder 700.000 assinantes do Disney+ no trimestre anterior, a empresa adicionou 1,4 milhões de assinantes no último trimestre, elevando o total de assinantes do Disney+ para 126 milhões. A divisão de entretenimento do conglomerado teve uma receita de US$ 10,7 bilhões, um aumento de 9% em relação ao ano anterior.
Sequência
O diretor Gil Junger disse recentemente à revista People que está desenvolvendo uma continuação de 10 Coisas que Eu Odeio em Você, comédia romântica lançada em 1999. Junger está escrevendo o roteiro ao lado de Naya Elle James que, segundo o cineasta, poderia se transformar em uma trilogia.
O primeiro projeto se chamaria 10 Things I Hate About Dating, a sequência seria 10 Things I Hate About Marriage e o terceiro filme se chamaria 10 Things I Hate About Kids. Atualmente em desenvolvimento como um longa-metragem, 10 Things I Hate About Dating conta com o retorno de Andrew Lazar, o produtor do filme original.
Por enquanto, a produção permanece sem elenco e até mesmo aprovação, mas o diretor admite que adoraria trabalhar novamente com Julia Stiles, protagonista do filme original com Heath Ledger. Junger também observou que “adoraria” que outros membros do elenco original fizessem participações especiais ou maiores. Sobre Ledger, que faleceu em 2008, o cineasta disse que o ator merece ser amado após ser questionado sobre se haveria alguma referência ao personagem.
Atualmente, está em desenvolvimento na Broadway uma adaptação de 10 Coisas que Eu Odeio em Você. O musical terá trilha sonora de Carly Rae Jepsen e Ethan Gruska, com livro de Lena Dunham e Jessica Huang.
Falando em sequência…
A Warner Bros. anunciou nas redes sociais que a sequência de Da Magia à Sedução está prevista para estrear nos cinemas em 18 de setembro de 2026. Com Sandra Bullock e Nicole Kidman retornando à produção, o filme terá direção de Susanne Bier.
Roteirista do primeiro filme, Akira Goldsman trabalhou no roteiro da sequência, que também conta com o retorno da produtora Denise Di Novi — Bullock e Kidman também atuarão como produtoras. Por enquanto, os detalhes do enredo não foram divulgados.
Data
O Directors Guilf of America anunciou que a 78º edição do DGA Awards será realizada em 7 de fevereiro de 2026. A cerimônia acontecerá no início da segunda fase do ciclo de premiações, apenas 10 dias após o anúncio das indicações ao Oscar em 22 de janeiro — a entrega das estatuetas do Oscar está marcada para 15 de março de 2026.
Com Beth McCarthy-Miller retornando como presidente da cerimônia pelo quinto ano consecutivo, o DGA Awards reconhece realizações excepcionais de direção em cinema, televisão e documentário, além de homenagear diretores e equipes. Os prazos de votação e os principais prazos de inscrição serão anunciados ainda este ano.
Cinebiografia
O editor, roteirista e diretor Walter Fasano fará um documentário sobre Nino Rota, compositor italiano vencedor do Oscar responsável pelas trilhas de La Dolce Vita [1960], O Leopardo [1963] e O Poderoso Chefão [1972].
Fasano é conhecido por sua longa colaboração criativa com Luca Guadagnino, principalmente em filmes como Um Mergulho no Passado [2015] e Me Chame pelo seu Nome [2017]. Recentemente, Fasano dirigiu Pino, documentário sobre o artista, escultor e cenógrafo italiano Pino Pascali.
Rota compôs a trilha sonora de 16 filmes dirigidos por Federico Fellini, incluindo A Estrada da Vida [1954], 8 1/2 [1963] e Julieta dos Espíritos [1965]. O compositor morreu aos 68 anos em 1979.
Atualmente, as filmagens estão em andamento na região da Apúlia, na Itália — onde Rota viveu parte de sua vida na cidade portuária de Bari. O documentário contará com materiais de arquivo e entrevistas com grandes nomes que trabalharam com o maestro ou foram profundamente influenciados por ele, como o diretor Park Chan-Wook, o compositor Alexandre Desplat e o maestro e arranjador Vince Mendoza.
Por enquanto, nenhuma empresa de vendas internacional está envolvida no projeto.
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