Netflix começa a colocar ordem na casa
Documentário de Nick Cave e Warren Ellis estreando na MUBI; novas mudanças na Warner; prequel de Jogos Vorazes; e mais...
Após a tempestade gerada na última reunião de acionistas, a Netflix começou a se organizar para colocar ordem na casa. Além de inúmeras demissões em diferentes departamentos — mais de 150 funcionários foram mandados embora, cerca de 2% da força de trabalho da empresa —, o streamer iniciou uma nova política de gastos e conteúdo criados pelo estúdio.
Em conversa com várias fontes, incluindo executivos, produtores e agentes com vínculos com a empresa, o jornalista Borys Kit compartilhou em matéria publicada no The Hollywood Reporter que as áreas de televisão e outras partes da empresa foram atingidas, mas o foco principal foi a divisão de filmes. Os cortes afetaram profundamente o segmento de filmes live action family-friendly e as produções independentes originais, responsável por produções com orçamento inferior a US$ 30 milhões.
Fontes compartilharam que os filmes pequenos não vão desaparecer da plataforma, mas podem ser mais nichados e focados em públicos específicos. A produção também será reduzida, diminuindo a quantidade — aparentemente excessiva — de executivos trabalhando no streamer.
A Netflix quer focar em fazer filmes maiores e melhores, lançando menos produções — a publicação afirma que ainda não está claro para os funcionários e para a indústria o significado da nova diretiva “maior, melhor, menos”. Entretanto, a matéria afirma que “maior” não significa necessariamente mais filmes com orçamentos caríssimos de US$ 150 milhões.
Uma fonte compartilhou com Kit que o objetivo é melhorar a “versão de algo em vez de baratear por causa da qualidade”. A ideia é gastar de forma inteligente, optando por investir em um filme o que o estúdio geralmente investiria em dois — se dois filmes custam US$ 10 milhões, a Netflix investiria em apenas um por US$ 20 milhões. O streamer também permanecerá presente no território de aquisições de produções, um método tradicional da empresa.
A publicação ainda pontua que as animações também estão sob escrutínio, embora a política de um “novo filme toda semana” ainda é o objetivo do estúdio, seja live action ou animação. Entretanto, como Kit aponta, a Netflix está mirando na disciplina para o futuro do estúdio.
Falando em Netflix…
O streamer e Shonda Rhimes lançaram dois novos programas com o objetivo de expandir os profissionais abaixo da linha — termo de orçamento de produções audiovisuais que separam os custos de produção entre roteiristas, produtores, diretores, atores e elenco (acima da linha) e o resto da equipe de produção (abaixo da linha).
Intitulados The Producers Inclusion Initiative e The Ladder, os projetos são apoiados em parte pelo Fundo de Equidade Criativa da Netflix, criado em 2021 para aumentar as oportunidades por trás das câmeras para comunidades sub-representadas no cinema e na televisão.
O The Producers Inclusion Initiative foi projetado especificamente como um programa virtual de nove semanas focado em treinar produtores independentes, gerentes de unidade de produção, supervisores e diretores assistentes. O objetivo do programa é criar profissionais qualificados para o sistema de estúdio de Hollywood, além de conectar os graduados com departamentos da Netflix e da Shondaland.
Já o The Ladder foi planejado para oferecer oportunidades para grupos marginalizados que desejam adquirir experiência e treinamento em set. O programa começará no Reino Unido com as produções atuais da Shondaland, com os participantes recebendo treinamentos práticos com funções em departamentos como locações, produção, figurino, som, assistente de direção e dublês.
Ambos os programas serão remunerados e os participantes serão levados à Londres, com os graduados sendo elegíveis para trabalhos na Shondaland e outras produções da Netflix.
Maquiagem de milhões
A Netflix liberou a primeira foto de Maestro, cinebiografia sobre o compositor da Broadway Leonard Bernstein dirigida por Bradley Cooper. O segundo trabalho de Cooper como diretor de longas-metragens entrou em produção em maio e não deve ser lançado até 2023.
Com produção de Cooper, Martin Scorsese, Steven Spielberg, Kristie Macosko Krieger, Fred Berner e Amy Durning, o projeto narrará diferentes fases da vida do compositor creditado como o primeiro maestro nascido nos EUA a liderar uma grande orquestra sinfônica do país — Bernstein também era conhecido por ser engajado em inúmeras causas progressistas, como apoiar o movimento dos direitos civis e protestar contra a Guerra do Vietnã.
Ao lado de Carey Mulligan — que interpretará a esposa de Bernstein, Felicia Montealegre —, as imagens mostram o compositor em diferentes fases da vida. Em dezembro, Scott Stuber, chefe de filmes globais da Netflix, contou à Variety que o trabalho de pré-produção de Maestro estava focado na maquiagem e vozes dos atores.
Em notícias mais curtas…
Dança das cadeiras
Em processo de mudança após o nascimento da Warner Bros. Discovery, o executivo de cinema Toby Emmerich está deixando o cargo de presidente do Warner Bros. Pictures Group — é esperado que Emmerich consiga algum tipo de acordo de produção após a saída.
O executivo que esteve na empresa por mais de duas décadas foi nomeado presidente em 2018, passando por duas grandes mudanças corporativas: a compra da AT&T e a recente aquisição pela Discovery após a empresa de telecomunicações norte-americana decidir sair do negócio de mídia para se concentrar na construção da rede 5G.
Emmerich será substituído por Michael De Luca e Pamela Abdy, que também vão assumir a supervisão da New Line Cinema — recentemente, a dupla liderou a Metro-Goldwyn-Mayer até a venda para a Amazon.
Nick Cave + Warren Ellis = <3
A MUBI anunciou a estreia exclusiva de This Much I Know To Be True, documentário dirigido por Andrew Dominik. Filmado em locações em Londres e Brighton, o filme registra o excepcional relacionamento criativo de Nick Cave e Warren Ellis, enquanto dão vida às canções de seus dois últimos álbuns de estúdio, Ghosteen (Nick Cave & The Bad Seeds) e Carnage (Nick Cave & Warren Ellis).
Estreando em 8 de julho, This Much I Know To Be True é uma obra complementar ao filme One More Time with Feeling, documentário de Dominik que registra a gravação do álbum Skeleton Tree, de Nick Cave & The Bad Seeds — One More Time with Feeling chega à MUBI no dia 6 de agosto.
Prequel
Rachel Zegler vai estrelar The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes, prequel da franquia Jogos Vorazes. Com direção de Francis Lawrence, Zegler será a jovem Lucy Gray na adaptação de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, livro de Suzanne Collins. A produção está prevista para estrear nos cinemas em novembro de 2023.
A história segue o início da jornada de Coriolanus Snow — interpretado por Donald Sutherland na franquia original —, um jovem nascido em berço de ouro que busca construir o próprio legado após a família passar por problemas. Snow encontra sua grande chance ao ser escolhido como mentor para o 10º Jogos Vorazes. No entanto, o jovem se frustra ao ser escalado para orientar Lucy Gray, uma candidata do pobre Distrito 12.
Escrito por Michael Lesslie e Michael Arndt, The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes será o retorno de Lawrence ao universo da série literária — o cineasta dirigiu três de quatro filmes da franquia: Em Chamas, A Esperança - Parte Um e A Esperança Parte - Dois. Snow será interpretado por Tom Blyth na nova versão.
Adaptação
A Amazon anunciou Taylor Zakhar Perez e Nicholas Galitzine como os protagonistas da aguardada adaptação cinematográfica de Vermelho, Branco e Sangue Azul, livro escrito por Casey McQuiston. O elenco ainda conta com Clifton Collins Jr., Stephen Fry e Sarah Shahi.
A comédia romântica gira em torno de Alex Claremont-Diaz, o filho da primeira presidenta dos Estados Unidos, e seu relacionamento com o príncipe Henry, um príncipe britânico. Vermelho, Branco e Sangue Azul será escrito e dirigido por Matthew López, a estreia do dramaturgo como diretor de cinema.
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Até a próxima semana, se cuidem e cuidem dos seus,
Júlia Gavillan