Globo de Ouro tenta retorno das cinzas
Busca pelo filme perdido de Orson Welles e mais...
Do pó sairei?
Após décadas passando vergonha e nos fazendo passar raiva, a Hollywood Foreign Press Association aprovou um novo estatuto para reformular profundamente a associação e tentar recuperar a confiança de Hollywood — tentar é a palavra-chave aqui.
Há anos, a HFPA é questionada sobre suas políticas de votação e aceitação de novos membros, mas a situação se tornou insustentável em maio de 2021 com a publicação de uma matéria bombástica do Los Angeles Times. O artigo revela que a associação não tem jornalistas negros entre os mais de 80 membros e alega que, nos últimos anos, ela não foi conduzida de forma ética, além de ser financeiramente duvidosa para uma organização sem fins lucrativos.
A matéria causou um imenso reboliço na indústria e a resposta foi imediata. Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, anunciou um boicote, seguido por um grupo de mais de 100 empresas de publicidade de Hollywood. Diversos atores fizeram declarações públicas contra a associação e a NBC, parceira de longa data da HFPA na transmissão do Globo de Ouro, anunciou que não irá transmitir a cerimônia em 2022.
Sem parceiros, a HFPA se viu obrigada a fazer grandes mudanças estruturais, adotando um novo estatuto que visa aumenta e diversificar seu quadro de associados, além de assegurar a legitimidade das votações. Uma das primeiras mudanças aprovadas foi uma nova política de presentes e viagens para evitar conflitos de interesse.
Agora, os membros são proibidos de receber materiais promocionais ou outros presentes de estúdios, publicitários, atores, diretores ou qualquer núcleo ligado à produção de filmes e programas de televisão. Os tais presentes que os membros da associação recebiam sempre foram alvo de questionamento pela imprensa e grande parte da indústria.
Publicado na íntegra na Variety, alguns pontos do novo estatuto são importantes destacar, especialmente a implementação de um ciclo de eleição de um novo Conselho Administrativo, bem como outro processo de recredenciamento para todos os membros existentes e adesão de novos membros.
Durante anos, os críticos reclamaram que o processo de inscrição da associação era tendencioso e tinha a pretensão de manter os interessados afastados. Com as mudanças, a HFPA disse que permitirá a inscrição de qualquer jornalista que deseje entrar. Os novos membros serão selecionados por um comitê de credenciamento composto principalmente por não membros.
Após a divulgação do novo estatuto, a NBC divulgou um comunicado aplaudindo as mudanças e afirmando que elas sinalizam que a associação está disposta a fazer o trabalho necessário para uma transformação significativa acontecer. Embora a organização ainda não tenha estabelecido metas específicas para aumentar o número de membros e diversificar seu quadro de participantes, a HFPA parece ter dado os primeiros passos para garantir o futuro da sua associação. Vamos ver como as mudanças funcionarão na prática.
Sai um, entra outro
Enquanto isso, a NBC encontrou outra premiação para exibir no período de hiato do Globo de Ouro. A emissora transmitirá simultaneamente com o E! o People's Choice Awards 2021, que acontecerá no dia 7 de dezembro.
A premiação, que conta com votação online dos fãs em uma imensa salada de 44 categorias(!), será exibida em mais de 90 países.
E com a palavra, o sindicato dos atores
Em comunicado lançado na última sexta-feira, Gabrielle Carteris, presidente da SAG-AFTRA, abordou o processo de Scarlett Johansson contra a Disney. Como esperado, Carteris apoiou a decisão da atriz e afirmou que: "ninguém em qualquer área de trabalho deve ser vítima de reduções surpreendentes na compensação esperada". Resumindo: Bitch better have her money.
Segundo a presidente do sindicato dos atores, a Disney e outras empresas de conteúdo tem condições de cumprir com as obrigações contratuais com seus talentos, já que eles são responsáveis pelos lucros dos estúdios. No comunicado, Carteris também afirmou que o SAG-AFTRA está profundamente preocupado com o tom usado nas declarações públicas da Disney e declarou que as mulheres não são insensíveis quando lutam por um pagamento junto.
“As mulheres foram vitimadas pela desigualdade salarial durante décadas e foram ainda mais vitimadas por comentários como os das declarações da Disney à imprensa. Esse tipo de ataque não tem lugar em nossa sociedade e o SAG-AFTRA continuará a defender nossos membros de todas as formas de preconceito."
Errada não está.
"Querida, voltamos!"
Warner Bros. e a gigante rede de cinemas AMC Theaters assinaram um novo contrato de exclusividade nos cinemas. Após enfurecer os exibidores com o anúncio dos lançamentos simultâneos nos cinemas e no HBO Max, o estúdio concordou com uma janela exclusiva de 45 dias — atualmente, a janela brasileira do estúdio é de 35 dias.
Esse retorno da Warner aos cinemas era esperado, já que o estúdio havia afirmado que a mudança não era permanente e foi apenas uma resposta à pandemia. Analistas que monitoram vendas de ingressos dizem que — surpresa! — o lançamento simultâneo prejudica os ganhos das salas de cinema.
Entretanto, mesmo as salas abertas nos EUA, grande parte do público tem evitado ir aos cinemas apesar do retorno de grandes produções. Com a variante Delta circulando e um aumento de casos de COVID-19 no país, talvez ainda demore um pouco para o público sentir confiança para retornar em peso. Vamos ver.
"Piupiupiu piu piupiupiu" Itt, Primo.
A Netflix anunciou que Catherine Zeta-Jones e Luis Guzmán entraram para o elenco de Wednesday, primeiro trabalho televisivo em séries de Tim Burton. Zeta-Jones interpretará Mortícia, a icônica matriarca da Família Addams, e Guzmán será Gomez, seu fiel e apaixonado marido.
Wednesday, descrita como um mistério sobrenatural, será protagonizada por Jenna Ortega e terá oito episódios. A trama segue as tentativas de Wednesday — também conhecida como Vandinha — de dominar sua habilidade psíquica emergente na Academia Nevermore. A série ainda não tem data de estreia.
Ainda sobre a Netflix…
A cineasta Ava DuVernay compartilhou no Twitter uma imagem de Colin in Black and White, série limitada sobre a vida do jogador de futebol americano Colin Kaepernick. Com seis episódios, a série vai explorar os anos do atleta no ensino médio e as experiências que o levaram a se tornar uma ativista.
Já anota na agenda: 29 de outubro na Netflix.
Busca em terras brasileiras
O jornalista André Barcinski entrevistou o documentarista Joshua Grossberg e o produtor Gary Greenblatt que embarcarão no Brasil em busca da cópia perdida de Soberba (The Magnificent Ambersons), filme de Orson Welles. A dupla está trabalhando em The Lost Print: The Making of Orson Welles' The Magnificent Ambersons, um documentário comemorativo aos 80 anos da produção de Welles.
Soberba carrega uma história bastante curiosa. A versão de Welles foi rejeitada pelo estúdio RKO após exibições-teste na Califórnia em 1942 e um novo final foi feito sem o envolvimento do cineasta. Na época, o diretor estava no Brasil trabalhando em It's All True, um filme episódico inacabado parcialmente financiado pelo governo dos EUA para apoiar o esforço de guerra como parte da Política de Boa Vizinhança.
Enquanto trabalhava no Brasil, o montador Robert Wise enviou para o Welles uma cópia completa de Soberba para que o cineasta assistisse e fizesse sugestões. Porém, longe de Los Angeles, o diretor não teve nenhum controle do corte final feito pela RKO e sua versão nunca foi lançada nos cinemas. Grossberg e Greenblatt acreditam que a cópia enviada para o diretor está perdida no Brasil. Se estiver em terra Brasilis, vamos torcer para estar inteira.
Contratinho novo
Robert Rodriguez, o homem que faz uma ótima pizza — veja The Chef Show —, assinou contrato com a HBO Max. No anúncio, o cineasta diz ser intrigante poder explorar o portfólio de propriedades intelectuais da WarnerMedia, o que pode significar que ele quer remexer nos armários do estúdio. Recentemente, Rodriguez produziu The Book of Boba Fett, o snip-off de The Mandalorian do Disney+.
Se cuidem, cuidem dos seus e até a próxima semana,
Júlia Gavillan.