Disney enfrenta pressão pública com legislação anti-LGBTQIA+
Reação de Hollywood ao Oscar 2022, lançamentos de março na Netflix Brasil e mais...
A última semana não foi fácil na Casa do Mickey.
No início desta semana, a Flórida aprovou um projeto de lei chamado Don’t Say Gay, que proíbe instrução sobre orientação sexual e identidade de gênero no jardim de infância até a terceira série em escolas públicas, permitindo que os pais processem distritos por supostas violações.
Desde então, a Disney vem enfrentando pressão pública de funcionários e outros grupos por financiar alguns dos apoiadores do projeto na legislatura estadual. Em memorando enviado aos funcionários da empresa, Bob Chapek, CEO da Walt Disney Company, afirmou que ele e a empresa apoiam os funcionários LGBTQIA+, suas famílias e comunidades, mas acrescentou que a Disney não tinha planos de divulgar nenhuma declaração pública sobre a lei — o executivo disse que “o maior impacto” que poderiam causar “na criação de um mundo mais inclusivo é através do conteúdo inspirador que produzidos”.
A declaração causou uma onda de manifestações públicas contra o estúdio, obrigando a Disney a abordar diretamente a questão na reunião de acionistas realizada na quarta-feira. Ainda no início da sessão de perguntas e respostas, Chapek afirmou que o governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, concordou em se encontrar com ele para conversas sobre a legislação — em comunicado enviado ao The New York Times, uma porta-voz de DeSantis disse que a tal reunião ainda não foi agendada.
“Estávamos esperançosos que nossos relacionamentos de longa data com esses legisladores permitiriam que o uso alcançasse um resultado melhor, mas, apesar de semanas de esforço, não tivemos sucesso. Liguei para o governador DeSantis esta manhã para expressar nossa decepção e preocupação de que, se a legislação se tornar lei, ela possa ser usada para atingir injustamente crianças e famílias gays, lésbicas, não-binárias e transgêneros.”
Ainda durante a reunião, o CEO reconheceu que, embora a empresa tenha “se oposto ao projeto desde o início”, a abordagem inicial para combatê-lo não foi o suficiente. Segundo Chapek, a Disney assinará uma declaração se opondo a legislação nos EUA, além de estar reavaliando a abordagem do conglomerado, incluindo doações polícias na Flórida e em outras regiões.
O mandachuva ainda completou que a Disney se engajará em campanhas para proteger os direitos das pessoas LGBTQIA+ — “Estamos comprometidos em apoiar a comunidade daqui para frente”.
Não foi o suficiente
No entanto, a declaração não ajudou a apaziguar a situação. Assinada por um grupo não identificado de funcionários LGBTQIA+ da Pixar e aliados, a Variety publicou uma carta que alega que executivos corporativos da Disney exigiram cortes de “quase todos os momentos de afeto abertamente gay” das histórias criadas pelo estúdio de animação.
Na carta, os funcionários afirmam que testemunharam pessoalmente belas histórias criadas pela Pixar sendo reduzidas a migalhas após críticas corporativas da Disney.
“Mesmo que a criação de conteúdo LGBTQIA+ fosse a resposta para corrigir a legislação discriminatória no mundo, estamos sendo impedidos de criá-lo.”
O grupo também exige que a Disney pare de financiar políticos que apoiam o projeto, além de argumentar que as declarações públicas feitas pela empresa no passado ajudaram a mudar resultados de projetos políticos.
Para piorar, a Variety publicou uma matéria afirmando que Chapek e outros líderes da empresa receberam uma carta dos Grupos de Recursos de Funcionários de Negócios LGBTQIA+ em 28 de fevereiro — antes da aprovação no projeto de lei —, solicitando que a Disney “emitisse uma declaração pública condenando as políticas anti-LGBTQIA+ nos EUA”.
Enquanto isso, o Human Rights Campaign, o maior grupo de defesa e de lobby dos direitos civis LGBTQIA+ nos Estados Unidos, anunciou que planeja recusar a doação prometida por Chapek até que uma ação significativa seja tomada para garantir que o projeto de lei não seja aprovado na Flórida.
Espera, o que?
Rumos sobre uma possível venda da Paramount circulam na mídia há alguns anos. Após o anúncio dos planos de fusão da Discovery com a WarnerMedia, as conversas sobre a empresa se tornar um possível alvo de aquisição retornou com força. Agora, o CEO da Paramount Global, Bob Bakish, colocou mais lenha nessa fogueira.
Em palestra na Morgan Stanley Technology, Media & Telecom Conference, Bakish destacou pontos importantes da apresentação do Investor Day realizado em fevereiro, afirmando que a Paramount está apta a se tornar líder na era do streaming.
Segundo Bakish, os movimentos que a Paramount está fazendo agora não apenas reforça a posição como uma empresa independente, mas também a torna o que ele consideraria um alvo de aquisição atraente.
Ao argumentar sobre um comprador ser capaz ou não de usar todo o conteúdo adquirido em uma aquisição — a resposta normalmente é não, observe o exemplo da aquisição da finada Fox pela Disney —, o executivo comentou que a estratégia de investimento da Paramount aumenta a opcionalidade, porque eles estão ganhando cada vez mais controle sobre conteúdo de alta qualidade.
Bakish chegou a dizer que “repatriar” conteúdo, junto com o investimento em novos produtos, ajudará a impulsionar o crescimento de assinantes e receita do streaming, tornando a empresa uma compra desejável — o valor de mercado da Paramount Global é de US$ 22 bilhões.
Atualmente, a Paramount não controla todas as suas propriedades, como o caso de certos filmes da divisão cinematográfica que ainda fazem parte de um acordo assinando com a EPIX até 2024.
Em notícias mais curtas…
Ainda sobre a Disney
Um porta-voz da Walt Disney Co. anunciou que a empresa está pausando todos os negócios na Rússia devido à invasão da Ucrânia pelo país. O conglomerado afirma que pausará “licenciamentos de conteúdo e produtos, atividades de cruzeiros, revistas e passeios da National Geographic, produções de conteúdo local e canais lineares”.
O porta-voz da empresa acrescentou que algumas atividades de negócios serão paralisadas imediatamente, enquanto outras áreas levarão tempo devido às complexidades contratuais — a declaração esclarece que todos os funcionários na Rússia permanecerão empregados. Anteriormente, a Disney já havia pausado todos os lançamentos teatrais no país.
Esta semana, Amazon, WarnerMedia, Discovery e Netflix também anunciaram que pausaram os negócios na Rússia.
Adiós!
A Sunshine Sachs, empresa de relações públicas de longa data da Hollywood Foreign Press Association, deixou de representar a organização do Globo de Ouro como cliente.
Sediada em Nova York com escritórios em Los Angeles, Atlanta, Austin e Washington DC, a empresa liderada por Ken Sunshine e Shawn Sachs representava a HFPA desde 2011 — a Sunshine Sachs também representa a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Falando em Academia…
Em uma carta enviada ao presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, David Rubin, mais de seis dúzias de profissionais do cinema — incluindo vencedores do Oscar — pediram que a organização desista do plano de retirar oito categorias da transmissão ao vivo da cerimônia, afirmando que a decisão rebaixará os profissionais indicados, os relegando ao “status de cidadãos de segunda classe”.
A carta conta com assinaturas de alguns dos profissionais mais importantes de Hollywood, incluindo o compositor John Williams — dono de 52 nomeações ao Oscar, o indivíduo vivo mais indicado da história da premiação —, os diretores James Cameron, Guillermo del Toro e Joe Roth, as produtoras Kathleen Kennedy e Lili Fini Zanuck, os vencedores Howard Shore, Dave Grusin, Alexandre Desplat, Steven Price, Hildur Guðnadóttir, John Corigliano, Tan Dun e Jan Kaczmarek, além dos indicados Nicholas Britell e Alberto Iglesias, entre muitos outros.
Apesar de não estar presente na lista de assinaturas, o cineasta Steven Spielberg se opôs a decisão no início da semana, citando que “Tubarão usaria dentaduras” sem a composição de Williams no filme.
Com apresentação de Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes, a 94ª cerimônia do Oscar acontece em 27 de março.
Março na Netflix
Confira o que estreia em março na Netflix Brasil.
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Até a próxima semana, se cuidem e cuidem dos seus,
Júlia Gavillan