Cineastas do Afeganistão relatam tentativas de fuga do país após domínio do Talibã
Números da Disney, Príncipe Charles bonitão e mais
Nos últimos dias, surgiram diversos relatos de cineastas e artistas do Afeganistão sobre a tomada de controle do Talibã no país. Obviamente, o Além do Filme não é uma newsletter sobre política e estou longe de ser uma especialista em política internacional. Entretanto, a edição dessa semana não poderia deixar de abordar os relatos de cineastas que estão em Cabul, apavorados com a real possibilidade de serem perseguidos e as artes deixarem de existir no Afeganistão.
Em conversa com o correspondente britânico Alex Ritman para o Hollywood Reporter, Shahrbanoo Sadat, uma das diretoras mais conhecidas do Afeganistão, falou sobre sua tentativa de escapar de Cabul e do país. A cineasta conta que recebeu um convite para sair do Afeganistão antes da chegada do Talibã, mas o recusou porque ele não incluía sua família.
Vencedora do prêmio da Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes com seu primeiro longa-metragem Wolf and Sheep [2016], Sadat alertou no festival que as negociações políticas com Talibã levariam o país de volta ao passado recente que subjugava mulheres no país. Agora, a diretora está focada em conseguir um avião e sair do Afeganistão, mas afirma que, se ela sobreviver e tiver chance de fazer filmes novamente, seu cinema terá mudado para sempre.
“Eu sinto que estou observando, estou assistindo as injustiças e algo realmente horrível, e eu só preciso salvar no meu corpo, lembrar e colocar em filmes depois, para compartilhar com o mundo. Se eu sobreviver a isso, farei filmes sobre o que aconteceu.”
Em suas redes sociais, a cineasta Sahraa Karimi divulgou uma carta aberta pedindo apoio da comunidade cinematográfica internacional para proteger os artistas no país. Diretora-geral da companhia nacional de cinema do Afeganistão, a Afghan Film, Karimi pediu que as pessoas não fiquem em silêncio.
"Se o Talibã assumir o controle, eles vão banir toda a arte. Eu e outros cineastas podemos ser os próximos em sua lista de alvos. Eles vão tirar os direitos das mulheres: seremos empurrados para as sombras de nossas casas e de nossas vozes, e nossa expressão será abafada no silêncio."
Karimi é a primeira e única mulher no Afeganistão a ter um doutorado em cinema. Seu último filme como diretora foi Hava, Maryam, Ayesha, um drama sobre gravidez e aborto no país, exibido no Festival Internacional de Cinema de Veneza em 2019.
Nos últimos dias, a cineasta compartilhou informações sobre sua situação e contou que conseguiu escapar de Cabul com outras pessoas com a ajuda da Academia Eslovaca de Cinema e Televisão, o governo ucraniano, a embaixada da Turquia e a embaixada da Eslováquia. Karimi e sua família embarcaram em um voo turco para a Ucrânia via Istambul e agora trabalham para conseguir vistos e voos para 36 outros cineastas afegãos e suas famílias.
Em conversa com o Hollywood Reporter, a cineasta afirma que não renunciou ao seu cargo e continuará usando sua voz contra o regime do Talibã. Segundo Karimi, todos os acontecimentos vividos na última semana foram filmados e ela encontrará formas de continuar contando as histórias do Afeganistão mesmo longo do país.
Money, money, money
Na última semana, a Disney divulgou os números do seu trimestre financeiro e mostrou que o conglomerado de mídia está dando sinais de recuperação após o impacto causado pela pandemia — as receitas aumentaram em 45% em relação ao trimestre anterior.
Uma boa notícia para os bolsos dos acionistas foi o aumento dos assinantes globais do Disney+, superando as expectativas e atraindo 12,4 milhões de novos assinantes. O streaming chegou em 116 milhões de assinantes em 3 de julho, acima dos 114,5 milhões previstos para o período.
“Não, mas o Iger…”
Além dos números, alguns assuntos pertinentes foram tocados na teleconferência com acionistas, realizada na quinta-feira (12/08). Bob Chapek, CEO da Disney e vulgo Bob 2, fez o famoso name-drop ao falar sobre o lançamento de Viúva Negra nos cinemas e no streaming e deixou claro que decisão não foi tomada apenas por ele.
“Bob Iger e eu, junto com a equipe de distribuição, decidimos que essa era a melhor estratégia porque nos permitiu alcançar um público mais amplo.”
Mesmo que o processo de Scarlett Johansson contra a Disney não tenha sido abordado diretamente, o estúdio diz que quer garantir que todos sintam que "estão tendo seus compromissos contratuais honrados tanto do ponto de vista da distribuição quanto da compensação". Essa abordagem parece ter entrado em prática com o anúncio do acordo do estúdio com a atriz Emma Stone para estrelar para a continuação de Cruella.
O híbrido continua
Diferente do que andou circulando por aí na última semana, a Disney não desistiu do modelo híbrido Disney+ e Premier Access. Para acionistas, Bob 2 enfatizou que o conglomerado valoriza a flexibilidade de decidir como será o lançamento de cada filme e ainda indicou não haver “nada certo” em relação à distribuição de produções nos cinemas.
Com uma receita em streaming de US$ 4,3 bilhões, um crescimento de 57% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, a Disney dificilmente desistirá de uma estratégia que pode lhe dar novos assinantes e, consequentemente, mais dinheiro.
Aos acionistas, Bob 2 encheu a boca para dizer que o modelo híbrido de lançamento foi “uma estratégia vencedora” até o momento e declarou que Free Guy, herança da agora 20th Century Studios, só não foi para o streaming devido aos acordos de distribuição existentes entre HBO e Fox antes da aquisição.
Questões contratuais com expositores também impediram que Shang-Chi e A Lenda dos Dez Anéis tivesse a mesma estratégia de lançamento de Viúva Negra. Segundo o CEO, o lançamento exclusivo de 45 dias nos cinemas será um “experimento” para o conglomerado levantar dados sobre a fórmula — essencialmente, o estúdio quer descobrir se os cinemas rendem financeiramente no cenário atual.
Deu ruim
Simu Liu, protagonista de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, não ficou muito feliz com a frase e expôs seu descontentamento no Twitter. Durante a premiere do filme, Kevin Feige abordou o assunto e colocou panos quentes na questão. Segundo ele, foi tudo um “mal-entendido” e “não era a intenção”. Imagina a quantidade de focos de incêndio que Feige anda apagando nos bastidores nos últimos meses.
Enquanto isso, no Brasil…
Poucas semanas antes do lançamento no Brasil, a Disney divulgou os valores do Star+ no país. O valor mensal custará R$ 32,90, o Combo+ (Disney+ e Star+) será R$ 45,90 e o anual sairá por R$ 329,90. A Disney não informou como o Combo funcionará para o assinante que já paga plano anual do Disney+, mas o estúdio diz que o assinante “também poderá ter acesso ao benefício comercial do Combo+”.
Na semana passada, a Disney e a Starz se resolveram e desistiram da ação judicial envolvendo o nome Star. A resolução amigável saiu pela bagatela de R$ 50 milhões.
Charles, é você?
Após liberar a primeira foto de Imelda Staunton como Elizabeth II, a Netflix divulgou as primeiras imagens de Dominic West e Elizabeth Debicki como Príncipe Charles e Princesa Diana para a quinta temporada de The Crown. A série ainda não tem data para estrear, mas já podemos dizer que a direção de casting foi bastante bondosa com Charles — se é que você me entende.
Adiós, cinemas!
A Sony Pictures Animation e a Amazon estão em conversas para fechar um acordo global de US$ 100 milhões pela animação Hotel Transilvânia: Transformonstrão. O quarto filme da franquia Hotel Transilvânia, que já arrecadou mais de US$ 1,3 bilhão desde 2012, estava previsto para estrear nos cinemas dos EUA em outubro.
Segundo a Variety, o acordo não inclui entretenimento doméstico nos EUA, TV linear e lançamento na China. Com o aumento de casos de COVID-19 nos EUA impulsionados pela variante Delta e um bando de irresponsáveis não-vacinados, a Sony começou a explorar outra forma de lançamento do filme anunciado como o último capítulo da série Hotel Transilvânia.
Recentemente, a cidade de Nova York decretou que apenas pessoas vacinadas podem frequentar locais fechados — outras cidades consideram seriamente seguir a mesma medida. Sem vacinas para crianças menores de 12 anos, a opção de lançamento teatral para uma animação infantil se tornou insustentável. Portanto, divirta-se assistindo Hotel Transilvânia: Transformonstrão no conforto do seu lar.
“A aventura vai (re)começar…”
Para alegria geral da nação, a HBO Max encomendou uma nova série do universo de Hora de Aventura. Com dez episódios, Fionna e Cake embarcam em uma aventura — com a ajuda do ex-Rei Gelado, Simon Petrivok — de autodescoberta, enquanto saltam em multiversos. Adventure Time: Fionna & Cake também contará com um novo antagonista poderoso que está determinado a rastrear a dupla para eliminá-la.
Até o momento, a HBO Max exibiu três especiais originais de uma hora ambientados no mundo da animação como parte do Hora De Aventura: Terras Distantes — dois deles estão disponíveis no streaming no Brasil e a quarta e última animação estreia nos EUA no outono norte-americano.
Se cuidem, cuidem dos seus e até a próxima semana,
Júlia Gavillan.