A queda de Bob Chapek e o retorno de Bob Iger
Amazon nos cinemas; Avatar em terras chinesas; Spielberg homenageado; e mais...
Em um movimento inesperado, a The Walt Disney Co. anunciou que Bob Chapek deixou o cargo de CEO e será substituído por Bob Iger. Assinado por Susan Arnold, presidente do conselho de diretores da Disney, o comunicado afirma que o grupo concluiu que Iger está em uma “posição única” de liderar o conglomerado em um complexo período de transformação da indústria.
O comunicado também agradeceu ao ex-CEO Chapek pelos serviços prestados ao longo da carreira, “incluindo a condução da empresa nos desafios sem precedentes da pandemia”. Em junho, Chapek assinou um novo contrato de três anos com a Disney e recebeu uma declaração pública de apoio do conselho. O movimento foi seguido da demissão abrupta e particularmente brutal de Peter Rice, chefe de TV do estúdio. Retroativo, o novo acordo mantinha o CEO na empresa por pouco mais de dois anos.
O memorando também afirma que Iger concordou em atuar como CEO por dois anos, “com mandato do conselho para definir a direção estratégica para um crescimento renovado” e para identificar um sucessor apropriado.
Apesar do apoio público e da proteção de Arnold nos bastidores, a situação entre conselho e Chapek era bastante complexa. Em matéria publicada pelo THR, fontes ligadas à Disney dizem que o descontentamento entre alguns membros do conselho aumentou a ponto de ocorrer uma discussão sobre a substituição de Chapek na reunião de diretores no final de junho.
Na época, alguns membros queriam nomear Mark Parker, presidente da Nike, como CEO interino enquanto buscavam um novo líder permanente. Entretanto, uma fonte afirma que Parker recusou a oferta sempre que o assunto surgia. Além do CEO da Nike, o nome de Mary Barra, executiva da General Motors, também foi sugerido.
O comando de Chapek foi particularmente conturbado para a Disney. Além de todos os problemas envolvendo a pandemia, o executivo foi criticado por entrar em um conflito público sobre a compensação financeira de Scarlett Johansson, a hesitação com a lei Don’t Say Gay da Flórida — que irritou a equipe da Disney — e os consequentes problemas políticos com Ron DeSantis, governador do estado. A inesperada demissão de Rice também gerou uma onda de choque e indignação em Hollywood.
Mesmo com o voto de confiança público, o descontentamento com Chapek cresceu, atingindo um ponto crítico após a última reunião com acionistas. O consequente memorando sobre o congelamento de contratações, demissões e outros cortes de custos desencadeou uma profunda ansiedade no conglomerado. Duas fontes de alto nível contaram ao THR que foram pegas de surpresa pelo comunicado e precisaram correr para descobrir onde podiam fazer cortes.
Nos bastidores, Iger sempre demonstrou desaprovar a administração de Chapek. Pouco antes de deixar a empresa em 2021, o executivo teria alertado o conselho sobre como a cultura da Disney estava se transformando em algo negativo rapidamente. Foi a última vez que Iger conversou com Chapek.
Reconhecidamente, Iger levou o conglomerado a novos patamares ao adquirir a Pixar por US$ 7,4 bilhões em 2006, a Marvel por US$ 4 bilhões em 2009 e a Lucasfilm por US$ 4 bilhões em 2012. Em 2019, o executivo fechou a aquisição da 20th Century Fox por US$ 71,3 bilhões, uma compra que incluiu o estúdio 20th Century Fox, Fox Searchlight, FX Networks e National Geographic. No mesmo ano, a Disney ultrapassou US$ 10 bilhões em vendas globais de bilheteria.
Quando Iger assumiu a Disney em 2005, o valor de mercado da empresa era de aproximadamente US$ 55 bilhões, chegando a US$ 260 bilhões em janeiro de 2020. Na última sexta-feira (18/11), o valor caiu para US$ 167 bilhões.
Porém, enquanto grande parte da empresa celebra o retorno das políticas de Iger — especialmente o foco nos talentos e profissionais criativos —, um veterano não nomeado ironizou o fato do próprio Iger ter bagunçado a sucessão da Disney por 15 anos. Segundo ele, a decisão do conselho reflete a reputação do executivo e a “falta de opções e inaptidão” dos próprios membros.
Rápido no gatilho
Pronto para iniciar a reestruturação do conglomerado, Iger anunciou que Kareem Daniel sairá do cargo de presidente da Disney Media and Entertainment Distribution. Agradecendo os anos de contribuição do executivo, o CEO apontou que o projeto de reestruturação da Disney começará pela divisão anteriormente comandada por Daniel.
Iger também frisou que acredita “fundalmentalmente” que contar histórias é o que alimenta a empresa e deve permanecer como o centro da organização dos negócios da Disney.
Nomeado em outubro de 2020, Daniel assumiu o cargo após a reorganização de cargos executivos promovida por Chapek para dar mais destaque ao streaming.
Vitória para a Disney
Em busca de uma bilheteria bilionária, a 20th Century Studios confirmou que Avatar: O Caminho da Água será lançado nos cinemas na China. O anúncio foi feito em um post oficial no Sino Weibo, uma das plataformas de mídia social mais populares do país.
A sequência dirigida por James Cameron chegará aos cinemas regulares e IMAX chineses em 16 de dezembro, mesma data em que o filme será lançado em outros territórios.
Com um faturamento global de US$ 2,74 bilhões, Avatar [2009] arrecadou cerca de US$ 202 milhões na China, somando lançamento inicial nos cinemas e subsequente relançamento em 2021. Um mercado importante para Hollywood, autoridades chinesas concederam licenças de importação e distribuição para poucos filmes estrangeiros em 2022, com grandes blockbusters sem lançamento no país — o último lançamento da Marvel na China foi em 2019.
Amazon nos cinemas
Citando fontes anônimas familiarizadas com os planos da empresa, a Bloomberg diz que a Amazon.com Inc. planeja gastar mais de US$ 1 bilhão por ano para produzir filmes que serão lançados nos cinemas. A estratégia ainda está em avaliação, mas a publicação afirma que a Amazon faria entre 12 e 15 filmes por ano, colocando o varejista em pé de igualdade com grandes estúdios hollywoodianos.
Uma fonte da Amazon disse ao THR que o planejamento para a nova estratégia ainda está no início e o número exato de títulos não foi decidido. Porém, o relatório já causou reação no mercado cinematográfico, com o aumento das ações das principais redes de cinema. As ações da Cinemark subiram 12%, enquanto as ações da AMC Theatres — a maior rede de cinema do mundo — subiu 5%. A publicação também impulsionou um aumento de 7% das ações da IMAX e 4,6% da Cineplex — rede que já estava em negociações com Amazon e Apple antes da publicação do relatório.
Recentemente, a Amazon finalizou a compra da MGM Studios por US$ 8,45 bilhões, garantindo uma biblioteca de 4.000 títulos do estúdio. A casa de grandes franquias cinematográficas, incluindo a série James Bond, a empresa tem planos para que a MGM continue fazendo filmes.
Indicados
O Independent Spirit Awards anunciou os indicados da premiação que acontece em 4 de março de 2023. Com 409 filmes inscritos — um recorde para a organização —, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo lidera as nomeações com oito indicações, seguido por Tár com sete e Aftersun com cinco. Veja a lista completa aqui.
Entre as ausências, The Whale, novo filme de Darren Aronofsky, não recebeu indicações na premiação, deixando de fora Brendan Fraser, um dos candidatos ao Oscar de melhor ator. Ainda nas categorias de atuação, Danielle Deadwyler, de Till, e Jeremy Strong, de Armageddon Time, também não receberam indicações.
Vencedor do prêmio Robert Altman — prêmio concedido ao diretor, diretor de elenco e elenco de um filme —, os atores de Women Talking não podem receber indicações nas categorias de atuação. A produção da Universal Pictures dirigida por Sarah Polley recebeu indicações em melhor filme, além de melhor roteiro e melhor direção para Polley. No entanto, a A24 lidera o número de nomeações com 24 indicações.
Embora falados em inglês, alguns filmes foram elegíveis apenas para a categoria melhor longa internacional por terem sido produzidos fora dos EUA. The Wonder, novo filme do chileno Sebastián Lelio e protagonizado por Florence Pugh, está entre essas produções.
Os indicados para os prêmios de televisão serão anunciados em 13 de dezembro.
Em notícias mais curtas…
Homenagem
Steven Spielberg será homenageado no 73º Festival Internacional de Cinema de Berlim e receberá um Urso de Ouro honorário pelo conjunto da obra. The Fablemans, novo filme do cineasta, também será exibido no festival que acontece de 16 a 26 de fevereiro de 2023 — a produção será lançada no país pela Universal Pictures em março.
Em comunicado, Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian, diretores do Berlinale, enfatizaram a carreira de Spielberg e a capacidade do diretor de encantar gerações de espectadores em todo o mundo, além de dar um “novo significado ao cinema como a fábrica de sonhos”.
“Seja no mundo mágico eterno dos adolescentes ou na realidade que a história esculpiu para sempre, seus filmes nos levam a outro patamar, onde a tela grande se torna a superfície adequada para que nossas emoções sejam realizadas. Se a Berlinale 2023 representa um novo começo, não poderíamos encontrar um começo melhor do que o oferecido pelo grande trabalho de Spielberg.”
Além da homenagem, uma seleção dos filmes de Spielberg será exibida no festival, que divulgará a data da cerimônia e das sessões posteriormente.
A última da Disney…
Yann Demange assumiu as rédeas da direção de Blade, produção da Marvel Studios protagonizada por Mahershala Ali. Originalmente, Bassam Tariq estava no comando do projeto até sair da produção em setembro.
Após a saída de Tariq, a Marvel Studios focou em reformular a história e buscar a equipe certa para a produção. Com o novo diretor, o estúdio também substituiu a roteirista Stacy Osei-Kuffour por Michael Starrbury. Blade está previsto para estrear nos cinemas em 6 de setembro de 2024.
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Até a próxima semana, se cuidem e cuidem dos seus,
Júlia Gavillan